Jundiaí, a "capital do vinagre": cidade concentra a maior produção da América Latina

 




Jundiaí é famosa como a "Terra da Uva", mas poucos sabem que é também a maior produtora de vinagre da América Latina. A cidade abriga uma das maiores fábricas do setor, responsável pela impressionante produção de 100 milhões de litros por ano, com 96% desse volume saindo diretamente da planta à beira da Anhanguera.


O processo de fabricação combina tecnologia moderna com tradições antigas. "Tudo começa com a fermentação alcoólica de ingredientes como vinho ou álcool de cereais. Em seguida, ocorre a fermentação acética em acetificadores de última geração, até chegar à filtragem e análises laboratoriais", explica Marcelo Cereser, CEO da Castelo Alimentos. "Apesar da automação, mantemos a prática de testes sensoriais, pois o sabor e o aroma são a identidade da nossa marca." Atualmente, a produção local oferece mais de 30 variedades de vinagre, desde o clássico de álcool — que representa cerca de 80% do consumo nacional — até opções mais sofisticadas, como vinagre balsâmico, orgânico e versões aromatizadas com ervas finas, limão ou alho.


"O vinagre de vinho tinto foi o primeiro produzido em Jundiaí e continua a ser um símbolo da nossa história", lembra Cereser. A conexão da indústria com Jundiaí é forte; desde sua instalação na cidade em 1968, a fábrica cresceu junto com o município, gerando empregos e se tornando parte da memória afetiva de muitas famílias.


"Jundiaí oferecia tudo o que precisávamos: infraestrutura, localização estratégica e uma tradição na uva, que sempre foi um ingrediente essencial. Foi aqui que encontramos o ambiente ideal para prosperar", afirma o CEO. Histórias curiosas também fazem parte dessa trajetória. A primeira garrafa de vinagre de vinho tinto envasada na fábrica foi assinada por todos os funcionários e é guardada até hoje como uma relíquia. Além disso, a icônica Dercy Gonçalves já visitou a fábrica, um episódio que se tornou uma lenda entre os colaboradores.


"No passado, as visitas à fábrica eram comuns, recebendo desde moradores locais até celebridades. A visita da Dercy Gonçalves foi uma das mais memoráveis, mostrando o quanto a marca sempre esteve conectada à cultura popular brasileira." 


Mais do que apenas temperar saladas ou realçar vinagretes, o vinagre se tornou um aliado versátil nos lares brasileiros. "Os consumidores sempre usaram vinagre para limpeza, neutralizar odores e até como amaciante natural. Foi assim que nasceu uma linha dedicada exclusivamente ao cuidado da casa", explica Cereser.


Com 120 anos de história, a indústria continua a investir em inovação sem perder suas raízes. Recentemente, lançou bebidas funcionais à base de vinagre de maçã, conhecidas como "refri do futuro", e investe em tecnologia, incluindo Inteligência Artificial, para prever a demanda e otimizar processos.


"Nosso compromisso é manter o vinagre acessível, democrático e presente na mesa dos brasileiros. É um ingrediente que atravessa gerações e permanece indispensável", conclui o CEO, que busca expandir o uso de soluções de inteligência artificial para melhorar a eficiência e a previsão de demanda no processo produtivo.


A palavra "vinagre" tem origem no francês "vinaigre", que significa "vinho azedo", e no latim "vinum acre" ("vinho ácido"). O vinagre surge naturalmente quando o vinho ou outras bebidas alcoólicas passam pela fermentação acética, transformando álcool em ácido acético.


Registros do uso de vinagre remontam à Antiguidade, tanto na alimentação quanto na medicina. Hipócrates, conhecido como o "pai da medicina", recomendava vinagre por suas propriedades medicinais. Na Roma Antiga, soldados consumiam uma mistura de água e vinagre chamada posca, usada para refrescar e hidratar.


O vinagre também é mencionado em textos bíblicos, como na crucificação de Jesus, quando lhe ofereceram uma esponja embebida em vinagre. No século XIX, Louis Pasteur estabeleceu as bases científicas da produção industrial de vinagre, explicando como bactérias transformam álcool em ácido acético.


No Brasil, o vinagre começou a se popularizar durante o período colonial, especialmente com a chegada dos portugueses, mas ganhou força como produto industrial e de consumo cotidiano no século XX.


Fonte: G1 

Fotos: Arquivo pessoal G1





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